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Agosto Dourado é a campanha de conscientização que visa informar a sociedade sobre a importância do aleitamento materno.

O leite materno é considerado o melhor alimento para o bebê e exclusivo nos primeiros seis meses de vida, pois contém todos os nutrientes necessários para que cresça forte e saudável como proteínas, vitaminas, água e todas as outros componentes fundamentais.

Além disso, é muito importante a alimentação na primeira hora de vida do recém-nascido, momento também conhecido como a “Hora de Ouro” e, principalmente, deste contato pele a pele com a mamãe.

Para ter mais informações sobre amamentação, sua importância e visibilidade de um especialista com relação ao tema e campanha Agosto Dourado, a BPA conversou com a Pediatra e Neonatologista, Laís Ferreira Terra. Confira a entrevista completa a seguir.

BPA: Qual a importância da primeira amamentação do recém-nascido, além desse primeiro contato pele a pele com a mamãe?

Laís Ferreira Terra: Após o nascimento do bebê, a primeira hora de vida dele é chamada de “Golden Hour” ou “Hora de Ouro”. É nesse momento que o bebê, além de ter o primeiro contato com a mãe através do pele a pele, terá também seu primeiro estímulo à amamentação. Eles têm um reflexo instintivo de procurar pelo seio materno nesse momento.

Esse estímulo precoce à amamentação ainda na primeira hora de vida do bebê é considerado um fator de proteção contra mortes, ele favorece a descida do leite e reduz o risco de hemorragia e diminui a demanda da oferta precoce de complementações de fórmulas lácteas infantis. Estudos tem mostrado que a amamentação precoce tem associação direta com maiores taxas de aleitamento materno e aleitamento materno exclusivo nos primeiros 6 meses de vida.

A longo prazo, esses benefícios também têm efeito como: reduz o risco de câncer de mama, ovário e endométrio na mãe, protege contra doenças alérgicas e infecciosas, proteção contra morte súbita, melhor desenvolvimento motor, dentre outros.

BPA: O leite materno contém todos os nutrientes necessários para o bebê?

Laís Ferreira Terra: O leite materno é único e específico da espécie humana. É considerado uma substância viva, atuando ativamente na proteção e imunomodulação do organismo. Isso significa que ele proporciona proteção contra infecções e alergias, estimula o desenvolvimento adequado do sistema imunológico do bebê e contém muitos componentes anti-inflamatórios.

Ele é composto por água, proteínas, gordura, carboidrato, micronutrientes e, além, é claro de inúmeros fatores protetivos para o bebê. Ou seja, é o alimento mais completo que o bebê pode receber – tanto é que ele é denominado “OURO LÍQUIDO”.

BPA: Geralmente, como funciona a rotina de amamentação? O choro do bebê é a principal/única ação da criança para dizer que está com fome?

Laís Ferreira Terra: Nas primeiras horas de vida do bebê, após o nascimento, é esperado que ele entre num sono profundo e passe poucos momentos acordados. Uma orientação importante que vale a pena ser lembrada é a respeito do pele a pele nesse momento. Além do bebê se sentir seguro e protegido, esse contato com a mãe estimula o bebê a procurar pelo seio materno. Eu gosto de frisar muito isso, pois muitos estudos mostram que o contato pele a pele está associado com o estabelecimento e sucesso na amamentação.

Com relação ao choro do bebê, esta é a única maneira que ele tem de se comunicar e não apenas quando está com fome. Ele pode chorar porque está incomodado com alguma coisa (fralda suja, excesso de roupa, por exemplo), com sono, com fome ou até mesmo se ele está vulnerável e quer um colo para se sentir seguro. Geralmente, o bebê costuma dar sinais quando está com fome e é muito importante os pais perceberem, principalmente os sinais precoces – começa a abrir a boca, se mexer e sinal da busca, que é o que denominamos quando o bebê começa a procurar com a boquinha. O choro está associado a um sinal tardio de fome e quando isso acontece, primeiramente, precisa-se tentar acalmar o bebê para depois oferecer o seio materno.

BPA: Até que idade é recomendado o aleitamento materno do bebê?

Laís Ferreira Terra: Atualmente, a Organização Mundial da Saúde (OMS) recomenda que o aleitamento materno seja mantido no mínimo 2 anos de idade ou mais e exclusivo até o sexto mês de vida, ou seja, até os 6 meses, o único alimento que o bebê irá receber é o leite materno.

BPA: E por quais razões é importante seguir somente com alimentação materna e regradas para o bebê?

Laís Ferreira Terra: Antigamente, muitas famílias eram orientadas a oferecer outros alimentos aos bebês, como chás, água ou até mesmo iniciar precocemente (antes dos 6 meses) a introdução alimentar. Esse tipo de conduta já não é mais recomendado há um bom tempo, pois sabe-se que o leite materno contém todos os nutrientes que o bebê precisa para crescer e se desenvolver de maneira saudável, principalmente nos primeiros 6 meses de vida, momento em que ele receberá apenas o leite materno. Para iniciar novos alimentos, o bebê precisa estar pronto do ponto de vista neurológico e mostrar sinais de que esteja apto a iniciar esse novo passo.

BPA: Quais as principais dúvidas que chegam no consultório sobre a pauta que estamos conversando? E qual a importância das consultas com o pediatra para tratar do tema?

Laís Ferreira Terra: As principais dúvidas, na sua grande maioria, geralmente estão associadas à mamada do bebê (como nos primeiros meses de vida o bebê demanda muito e isso inclui a amamentação, os pais tem muitos questionamentos, principalmente acreditando que o bebê possa estar passando fome), a crença de que o leite é fraco e ganho de peso do bebê.

As consultas de rotina com o pediatra (puericultura) são de extrema importância, pois é nesse momento que os pais podem tirar dúvidas e serem orientados. Outro momento que deve ser lembrado é a consulta pediátrica no pré-natal – nesse momento, a gestante passa em consulta com o pediatra e nela, dentre os inúmeros tópicos abordados, está a amamentação.

Entendo que a gestação e o nascimento são os momentos mais aguardados pelas famílias e uma das melhores maneiras de se preparar para isso é através da informação.

BPA: Na sua visão, qual a importância do movimento "Agosto Dourado", que visa a conscientização do aleitamento materno e também da semana dedicada para este tema?

Laís Ferreira Terra: O tema “amamentação” sempre me fascinou e entender e estudar sobre esse universo gigantesco me motiva muito. Ter um movimento que foca nesse momento que é o “Agosto Dourado” é de uma importância incrível – mesmo sendo um assunto que está sempre sendo estudado e em constante crescente, muitas pessoas infelizmente não tem acesso e ter um movimento destinado a difundir sobre o universo da amamentação é a maneira mais democrática que temos de trazer informação de qualidade para as pessoas.

BPA: A sociedade necessita cada vez mais de informações sobre esse tema, na sua visão?

Laís Ferreira Terra: Na minha opinião, esse é um tema que sempre deve ser levantado, trazendo sempre informações de qualidade e atualizadas. Amamentar não é tão simples como muita gente pensa, requer muita doação, paciência, cuidado, ter uma rede de apoio.

Como diz uma professora minha: “Amamentar não é apenas uma boca e um peito”. Por isso que acho sim, que é um tema que jamais pode ser esquecido. 

Imagem: Arquivo pessoal – Laís F. Terra